terça-feira, 11 de março de 2014

Divergente, Veronica Roth - resenha literária com spoiler



 CUIDADO! CONTÉM REVELAÇÕES DO ENREDO. 
Caso você ainda não tenha lido o livro, leia a resenha SEM spoiler.


Durante a leitura de Divergente, além de ser perceptível a diferença entre o bem e o mal, podem ser notadas várias cenas que nos ajudam a chegar à interpretação do livro sob o ponto de vista cristão:

- O pai da Tris faz uma oração de agradecimento a Deus antes das refeições, e ela cita que nem todas as famílias da Abnegação são religiosas, mas seu pai a aconselha a não ver essas diferenças para não causar divisões dentro da facção. [capítulo 4]

- Na cena da captura à bandeira, a Tris deixa a Cristina pegar a bandeira por mais que seja ela quem tenha encontrado. Ela deixa a amiga ficar com o mérito e engole o ciúme, ou qualquer sentimento que ela tenha tido pela Cristina ter pegado a bandeira, porque ela não quer ser como o Eric, que inveja a força das outras pessoas. [capítulo 12]

- Quando a Tris bate na Molly, ela quer descontar a sua raiva pelo o que a Molly, o Peter e o Drew fizeram, por eles terem puxado a tolha quando ela saiu do banho e visto a parte de trás do seu corpo nu, e caçoado dela. O Quatro a para e mesmo assim ela não se arrepende de ter batido na Molly. Mas quando o Eric a parabeniza por isso, ela sente o peso da culpa. Ela não quer ser cruel como o Eric. “Se Eric pensa que eu fiz alguma coisa certa, é porque eu fiz errado.” [capítulos 14 e 15]

- A Natalie faz algo que quebra o lema imposto pelo sistema de facções: faction before blood” (facção antes do sangue). Segundo a regra imposta ao iniciando, a família deve ser esquecida e a facção deve ocupar o seu lugar. A Natalie diz que não importa se a filha (Tris) mudou de facção, ela vai continuar protegendo-a. É como se ela dissesse: “sangue/família antes da facção”. [capítulo15]

- Na parede do quarto do Quatro estão pintadas as palavras: “Fear God Alone” (Tema a Deus, apenas). [capítulo 22]



- No capítulo 26, o Quatro diz: "Eu tenho uma teoria que altruísmo e coragem não são tão diferentes assim."; uma visível relação com: "Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos." (João 15, 13)

- A Jeanine deixa uma pergunta vaga sobre o porquê da maioria dos Divergentes serem da Abnegação e tementes a Deus. Ela considera isso uma fraqueza e ausência de vontade própria, em seguida o Quatro a contraria, dizendo que precisa ser muito forte para resistir e manipular as simulações. [capítulo 34]

- Quando a Tris é levada para o tanque de água para morrer afogada, ela está baleada e apavorada, então ela começa a pensar que não quer morrer como uma covarde. Respira fundo e se acalma. Com isso ela começa a relacionar a água do tanque com a água do batismo, de quando a mãe dela a "deu para Deus". Ela assume que fazia algum tempo que não pensava em Deus, mas nesse momento ela pensa Nele e se sente feliz por não ter matado o Eric. [capítulo 35]

- A Tris precisa enfrentar vários soldados da Audácia e está com medo, ela pergunta ao seu pai o que deve fazer, ele responde: “Go, and God help you.” (Vá, e que Deus te ajude.). [capítulo 37]

- Como na paisagem do medo, a Tris prefere morrer a matar alguém que ela ama, ela não mata o Quatro quando ele está sendo controlado pela simulação e tenta mata-la. Ela ainda cita o poder que há no autossacrifício. [capítulo 38]

- Quando o Quatro vai matar a Tris, ela pensa sobre como seria a morte e espera ter sido perdoada por tudo de errado que ela tenha feito. O que faz parecer como se ela estivesse pensando no que há após a morte e espera ir para o Céu. [capítulo 38]

- O Tobias acredita que é orgulho classificar uma virtude como principal e desprezar as outras, ele pensa que as virtudes funcionam quando estão em conjunto, ele quer ser bom e não apenas se encaixar. Isso pode ser observado em vários capítulos. [explicitamente no capítulo 31]

- Na Audácia, muitas vezes a coragem não é usada para o bem e sim como imposição do controle pelo medo, e principalmente em favor do auto engrandecimento, o que novamente é parte do orgulho. Em “Free Four - Tobias tells the Divergent story”, que é um tipo de spin off do capítulo 13 de Divergente, narrado pelo Quatro, ele admite que é isso o que ele mais detesta na facção. Ele até pediu para que o arremesso de facas fosse retirado do treinamento de iniciação, já que é usado somente para impressionar, mas seu pedido foi negado.

- Tobias é um nome de origem bíblica que em hebraico quer dizer “agradável a Deus”. Mesmo sem querer, sempre relacionei o Tobias de Divergente com o Tobias da Bíblia, principalmente quando Tobit, pai de Tobias, o aconselha a seguir uma vida justa: “Nunca permitas que o orgulho domine o teu espírito ou as tuas palavras, porque ele é a origem de todo mal.” (Tobias 4, 14). O Quatro poderia ter sido um Cinco, poderia ter tido mais de quatro medos se a Veronica Roth quisesse, mas repare de qual livro e capítulo da Bíblia foi tirado o trecho anterior e reflita se a frase não se encaixa com a personalidade do Quatro. Claro que ele não é perfeito, penso que ele demonstra isso quando fica bêbado [no capítulo 19] e ele ainda não conseguiu perdoar o seu pai, não consegue superar a mágoa.

- O livro encerra com a Tris indo buscar refúgio na sede da Amizade e dizendo que não quer ser apenas altruísta e corajosa, que ela quer ser mais do que isso. Dá para perceber uma mescla de virtudes, parece que ela não quer se limitar a uma única facção, o que nos lembra da mesma coisa que o Quatro disse (já comentado antes). [capítulo 39]

 

Não é possível citar todas as cenas, são muitas e quanto mais vezes se lê o livro mais se repara nelas.
                Com base nessas cenas e em outras, pode-se observar no mínimo os seguintes temas cristãos:
- As facções e a relação com o fruto do Espírito Santo, citado em Gálatas 5, 22-23a;
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Família, a mãe da Tris deixa bem claro o lema "sangue (família) antes de facção", quando visita-a na Audácia;
- Sacrifício dos pais da Tris;
- Natureza humana, que se não tiver Deus como centro padece ao caos (Romanos 3, 9-12). Na tentativa de corrigir os motivos das guerras é que foram formadas as facções, as quais se mostram falhas por se basearem apenas no homem;
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Todos devem saber a qual lugar pertencer, qual é seu propósito de vida, devem descobrir para que vieram ao mundo.
            
             O sentido de ser Divergente vai além de não poder ser controlado pelo soro das simulações. Ser Divergente é não se submeter à vontade humana inclinada para o mal. E para não se corromper por aquilo que é mau, é preciso ter muita força de vontade própria e uma conduta virtuosa, como foi citado explicitamente na cena do diálogo entre a Jeanine e o Quatro no capítulo 34. Um Divergente age contra tudo o que destrói a vida e protege a parte mais humana do que é ser humano, a parte que o leva a Deus.


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