Santidade: decisão que brota do cotidiano

Todos nós somos chamados à Santidade! Mas como corresponder a esse apelo de Deus, diante de tantos desafios e enigmas que envolvem a nossa vida? Nas montanhas de Minas Gerais, há alguém que pode nos ajudar nessa reflexão: Francisca de Paula de Jesus.

Nhá Chica, como ficou conhecida, é uma extraordinária mulher que viveu com heroísmo as virtudes cristãs. Nasceu em São João Del Rey em 1810. Filha e neta de escravas, sua família mudou-se para a Baependi quando ainda era criança. Nunca soube quem era seu pai, possivelmente o senhor de terras a quem sua mãe, Isabel, pertencia antes de ser libertada.

Isabel era católica muito piedosa, e na sua simplicidade cultivou a fé da pequena Francisca e de seu irmão Teotônio. Ensinou-lhes também uma carinhosa devoção a Virgem Maria. Todos os dias rezavam diante da pequena imagem de Nossa Senhora da Conceição...

Pense nas grandes dificuldades daquela família! Imagine, naquela época! A falta de um pai em casa, a pobreza, as cicatrizes da escravidão, a ausência de parentes próximos... Tudo isso não se tornou amargura nem desespero para Isabel, Teotônio e Francisca, mas tornou-os mais fortes na fé, mais firmes na esperança, mais ardentes na caridade. Aos dez anos, Nhá Chica perdeu a mãe. Não se viu órfã, pois recebeu por herança outra Maternidade: a Virgem Maria! A “Sinhá” da Conceição foi quem cuidou das duas crianças.

Antes de morrer, Isabel havia aconselhado a menina Francisca a não se casar, para ser toda de Deus! Esse convite ressoou intensamente e encheu de sentido o coração de Nhá Chica.  Recusando os pretendentes que a cortejavam, dedicou-se totalmente a construir, já aqui na terra, o Reino dos Céus. O irmão Teotônio, que se tornara funcionário do governo, casou-se e quis que irmã vivesse confortavelmente com ele. Mas a jovem Francisca, por uma vida de profunda oração e especial cuidado para com os pobres, decidiu-se por seguir Jesus na radicalidade!  Uma decisão que brotou do seu cotidiano. Humilde e simples, mas verdadeiramente caridosa. Não precisou esperar oportunidades formidáveis para cumprir sempre com mais perfeição a Divina Vontade. A grandeza de Nhá Chica está no seu fazer-se pequena. Viveu como uma mulher do seu tempo. Não pertenceu a nenhuma ordem ou congregação. Leiga, foi fiel a Deus, a Virgem Maria e a Igreja.

 Analfabeta, tinha um grande desejo de saborear as Sagradas Escrituras. Então alguém lia, e a deixava satisfeita!  Sua alegria era ouvir a Palavra de Deus. Fez-se serva da Santíssima Virgem Maria, de quem se tornou cada vez mais amiga. Elas se conversavam intimamente. A Doce Mãe e Senhora a instruía nos mistérios do céu e lhe revelava as maravilhas do Reino de Deus. Jovem ainda, já brilhava em Nhá Chica uma sabedoria admirável. Vizinhos ou Conselheiros do Império, pobres crianças ou ricos negociantes... A toda gente Nhá Chica recebia e ninguém saía de sua presença sem uma palavra de orientação, um conselho, uma direção... Às vezes calava, pensativa. Dizia assim: “Nossa Senhora é quem sabe”. Saía então para rezar, e voltava tranquila, com a resposta nos lábios. Aos que louvavam suas virtudes, respondia repetidamente: “Eu não sou santa. Sou uma pobre analfabeta. Eu rezo. E Deus, pelos merecimentos de Maria Santíssima me atende”.

Era paciente e disponível para todos, mas às sextas feiras se recolhia e não atendia a ninguém. Era o dia em que lavava as próprias roupas e se dedicava mais à contemplação e à penitência, meditando profundamente a Paixão e a Morte de Nosso Senhor Jesus. Às Três horas da tarde, intensificava suas orações e estreitava ainda mais sua união com Cristo e com a sua “Sinhá”.

Começou fazendo o necessário e esforçou-se cada vez mais por fazer o possível. Toda sua vida de oração transbordava em caridade ardente. Pobre, repartia com os pobres. Esmolava, a fim de saciar a tantos quanto necessitassem de auxílio. Dormia em um catre, sobre o qual estendia apenas um lençol, mas não hesitou em mandar ornar com ouro todo o Altar Mór da Matriz de Nossa Senhora de Montserrat, tão logo recebeu a herança do irmão Teotônio, que faleceu deixando-lhe uma pequena fortuna. Com doações e esmolas, construiu uma Capela para sua Sinhá, a Imaculada Conceição, e para ela compôs uma novena, que concluía recitando com grande devoção a Salve Rainha. Ao final, suspirava com olhos cheios de lágrimas: “Que oração bonita! Vamos rezar outra vez para Nossa ‘Sinhá’?”

Nhá Chica ensinou por mais de oitenta anos a bondade, a obediência, a firme confiança na misericórdia de Deus e o abandono total à sua Providência. Soube fazer de sua vida uma oferta agradável ao Senhor. Em 14 de junho de 1895, tendo cumprido modestamente sua missão, contemplou a Santíssima Trindade em plenitude, junto com a Sua ‘Sinhá’, os Santos e os Anjos. Uma grande multidão acorreu a Baependi para velar seu corpo, que permaneceu quatro dias exalando o doce perfume de rosas, sem sinais de decomposição. Foi sepultada, aos 18 de junho, na pequena capela que ergueu, onde hoje é o Santuário da Imaculada Conceição.

Já estamos muito perto do momento em que a Igreja elevará Nhá Chica a honra de seus altares. No dia 04 de maio, celebraremos a Solene Missa em que será Beatificada! Hoje somos nós os jovens diante de muitos desafios e incertezas. Deus nos amou e escolheu por primeiro, como fez com a pequenina Francisca. Não há respostas prontas nem fórmulas, mas temos um caminho de santidade aberto por aqueles que amaram incondicionalmente a Nosso Senhor.

E você, quer deixar também o bom odor de Cristo por onde passar?

//Edson Cassiano Lopes