terça-feira, 11 de março de 2014

Divergente, Veronica Roth - resenha literária sem spoiler



              Chegou um tempo em que as pessoas começaram a culpar a personalidade humana e a sua inclinação para o mal como a origem das guerras, e não mais os conflitos de ideologia política ou religiosa, por exemplo. A fim de corrigir as características causadoras de males, a sociedade de Divergente (Divergent, em título original) foi rigorosamente organizada em cinco facções, onde cada uma tem como base um código moral, ou Manifesto, que é imposto ao membro e o restringe a aquela virtude. Os membros da Audácia seguem a coragem e culpam a covardia como motivo de desordem no mundo, os da Amizade seguem a paz e culpam a agressividade, os da Franqueza seguem a verdade e culpam a duplicidade, os da Erudição seguem a inteligência e culpam a ignorância e os da Abnegação seguem o altruísmo e culpam o egoísmo.
                As pessoas de Divergente vivem sob o lema “facção antes do sangue” (do original: “faction before blood”), elas abandonam tudo para viver a sua facção. E é essa a primeira preocupação da Beatrice, personagem principal. Assim que ela completa 16 anos de idade, precisa escolher uma entre as cinco facções para pertencer durante toda a sua vida, ou ela pode decidir continuar com a sua família em sua facção de origem. Preparada ou não para essa escolha única, ela fica entre a sua verdadeira vocação e a deixar as pessoas que ela ama.
                Durante o livro, Beatrice enfrenta vários obstáculos e questões de superação pessoal que a leva aos primeiros passos do amadurecimento, mas nessa busca pela formação de sua personalidade ela também peca e erra. Ela se torna convicta de pelo que lutar, porém sente o peso de não estar preparada para isso.
                A personagem sofre perseguições por não se submeter ao controle dos líderes das facções, sempre movida pelo desejo de encontrar a verdade nem que seja ao custo da própria vida. Se eu tivesse que escolher uma palavra para definir a Beatrice, eu diria: destemor. Sem dúvida.
                Outro ponto importantíssimo em Divergente é a família. O sistema social se impõe de forma colossal sobre a família, até mesmo quando os filhos precisam tomar a decisão mais importante e definitiva de suas vidas, a escolha da facção, eles não podem pedir conselhos ou fazer perguntas aos seus pais. Esse e outros exemplos tratados no livro geram segredos, traumas e desuniões nos lares. Entretanto, também tem o lado virtuoso da família que é o amor que leva a doar-se pelo outro e a protegê-lo.
                O romance não é o ponto principal da saga, mas através do relacionamento amoroso que a Beatrice vive, a autora conseguiu expressar o significado do amor não como um sentimentalismo em busca de prazeres e sim como uma partilha e entrega de vida. 
 
Quem gosta de cenas de ação em romances, ficção científica e distopias futuristas, com certeza vai gostar de Divergente. As cenas são bem narradas, algumas vezes com toques de humor e sem detalhes cansativos. Na verdade, a falta de detalhes minuciosos e um vocabulário comum é o que deixam a desejar na escrita da Veronica Roth, porém isso se torna irrelevante se considerarmos o público que ela deseja atingir.
 
                A escritora conseguiu explorar a humanidade dos personagens e trabalhar a moral cristã dentro de uma atmosfera moderna comum para os jovens. A Beatrice não é uma menina fútil, nem perfeita e nem falsamente altruísta. As primeiras páginas não impulsionam muito a leitura, mas logo o ritmo do livro muda e quando o último capítulo chega você vai perceber que valeu a pena ter lido e vai querer ler a sequência.

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